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segunda-feira, 28 de junho de 2010

“Música e cibercultura”

Resenha do texto “Música e cibercultura” de Clóvis Ricardo Montenegro de Lima e Rose Marie Santini.

Aluna: Flávia Obara Kai

Neste artigo é possível compreender a relação entre a cibercultura e os processos de produção e compartilhamento de textos, fotos, imagens e músicas. Além disso, há a contextualização da indústria cultural dentro dessa mudança tecnológica, passando pela sociedade da informação e as conseqüências que tais mudanças provocam.

O final do século XX é marcado por profundas mudanças em dimensões econômicas e sociais, com maiores incertezas em relação ao futuro, enfraquecendo os vínculos sociais. A produção de informação e de conhecimento intensivos, de produtos personalizados e de signos e imagens ganha uma maior dimensão. As características da sociedade industrial perdem força com a flexibilização globalizada das formas de organização social. Essas mudanças sociais e tecnológicas acarretam em alterações nas relações de produção econômica e de conhecimento.

Segundo Miranda (2000), para construir a sociedade da informação no Brasil faz-se necessária a implantação de uma sólida plataforma de telecomunicação para difundir conteúdos que resultem em retorno social. Para isso, é necessária a instalação e o fortalecimento de adequadas infra-estruturas em escolas, bibliotecas e laboratórios para que a nova geração se prepare para o futuro. O conceito da autora faz-nos refletir se isso será possível em algum momento em nosso país, ou se não passa de mera utopia, já que no Brasil apenas 23,8% dos domicílios brasileiros estão conectados à Internet.

A sociedade da informação se desenvolve através da operação de conteúdos sobre a infra-estrutura de conectividade. Um exemplo desse funcionamento em rede é a convergência progressiva entre produtores, intermediários e usuários em torno de recursos, produtos e serviços de informação afins.

Na Internet, por exemplo, qualquer usuário pode tornar-se um produtor, intermediário e usuário de conteúdo, como nas wikipedias e blogs. É operando nessas redes de conteúdos de forma generalizada que a sociedade atual se moverá para a sociedade da informação.

A Internet enriqueceu o papel do usuário, do cidadão, dotando-o com o potencial e a capacidade de produtor e intermediário de conteúdos (Miranda, 2000). A tecnologia digital torna possível o uso de uma linguagem comum: tudo pode ser transformado em dígitos e distribuído de diversas formas para qualquer parte do mundo. A digitalização torna o conteúdo totalmente plástico, a mensagem, o som, a imagem podem ser editadas mudando de uma forma e suporte.

Lèvy (1999) afirma que existem três grandes etapas da história da cultura, quando se discute a formação cultural atual, que denomina de cibercultura: a das sociedades fechadas (de cultura oral); das sociedades civilizadas (usuárias da escrita); e da cibercultura, que corresponde a globalização completa das sociedades.

Os autores do artigo apresentam um quadro comparativo dos meios de comunicação e da cultura musical da modernidade para a sociedade da informação. De acordo com esse quadro, a cena musical na Modernidade está vinculada às séries da indústria cultural e da cultura de massas. A música popular moderna tem a forma de canções, que são reproduzidas pelo fonógrafo e se difundem pelo rádio e televisão. Já na sociedade da informação, o cenário musical é caracterizado pela cibercultura e pelas redes colaborativas, a música popular e as canções dão lugar à música eletrônica e obras abertas que se difundem com a Internet e o telefone celular.

A cena musical moderna está profundamente vinculada às séries da indústria cultural e a cultura de massas, assim como às novas tecnologias de informação e comunicação. Lèvy (1993) adverte que nos falta recuo para avaliar de forma plena todas as consequências das mutações tecnológicas sobre a produção e a economia da música atual, sobre as práticas musicais e a aparição de novos gêneros.

Para discutir sobre “Música e Cibercultura” devemos enteder o que é a Cibercultura.

De acordo com Breton (1990) e Castells (2001) a cibercultura é o conjunto de processos tecnológicos e sociais emergentes a partir da década de 70 do século XX com a convergência das telecomunicações, da informática e da sociabilidade contra-cultural da época, que tem enriquecido a diversidade cultural mundial e proporcionado a emergência de culturas locais em meio ao global supostamente homogeneizante. Como característica dessa cibercultura temos o compartilhamento de arquivos, músicas, fotos, filmes, etc, construindo processos coletivos (Lemos, 2004).

A cibercultura também pode ser compreendida como processo sócio-técnico da atualidade, marcada pelas redes telemáticas, sociabilidade online e navegação planetária em busca de informação (Lemos; Cunha, 2003). A cultura contemporânea está marcada pela interação comunicacional. A cibercultura não é determinada pela tecnologia: trata-se de uma relação que se estabelece pela emergência de novas formações sociais e tecnologias digitais.

Pensar na música inserida na cibercultura é pensar no grau de penetração da Internet no mundo, e principalmente no Brasil, que ainda é restrita. Não foi diferente em relação aos outros meios de comunicação. Quando o rádio e a televisão surgiram, o acesso era restrito a poucos.

Em relação aos suportes utilizados pela indústria cultural da música, percebe-se que os ciclos do vinil, da fita magnética ou do CD duram cerca de 15 a 20 anos, surgindo sempre novos formatos para uso cultural. As novas tecnologias provocam ações e reações significativas, que geram adequações e novas formas de uso de recursos existentes. Hoje existe o Peer-to-Peer ou P2P que torna possível a transferência de qualquer dado digitalizado, principalmente a música.

É interessante também compreender a importância que a indústria cultural tem nesse contexto. Adorno e Horkheimer (1970) conceituaram a indústria cultural na década de 1930, com a invenção do fonógrafo e das máquinas do cinema. Adorno (1999) se interessou pela passagem da audição de uma execução musical por artistas para a audição da mesma música por meio do fonógrafo. O uso deste meio mecânico para multiplicar a audição musical que lhe sugere a expressão “indústria cultural”. Esses filósofos são contra a utilização de tais meios mecânicos de transmissão musical, pois pensam que a qualidade de composição e interpretação deve ser observada na comunicação com o público, e contra a intermediação cultural. A indústria cultural, com o modo de produção capitalista determina a deterioração da cultura, da arte e do divertimento.

A comunicação, a arte e a cultura sofrem profunda reorganização com o aparecimento das novas tecnologias digitais. A música na era digital vive uma grade reorganização das práticas de criação e difusão. Com isso há uma mudança no uso e na disseminação da linguagem musical (Santini, 2005).

A Internet altera o modo de fazer e experimentar a cultura. O caráter hiper-midiático da web promoveu a “virtualização da música” de modo muito especial, amparada na sua digitalização.

A transmissão de arquivos musicais na Internet muda as relações entre produtores e usuários de música. Por um lado, os produtores de música podem disseminar com facilidade a sua obra, tornando-a virtualmente acessível a milhões de pessoas sem grandes custos de distribuição. Os usuários podem recuperar e usar arquivos musicais sem depender da mediação da indústria fonográfica. As máquinas e seus mecanismos de busca ampliam as possibilidades de encontro entre público, obras e autores. (Santini, 2005)

A unidade conceitual do CD com menos de uma hora de música é substituída pela possibilidade de arquivar milhares de músicas, escolhidas aleatoriamente, em um pequeno tocador portátil de MP3. Forma-se uma cultura de uso da música muito particular na cibercultura.

As grandes empresas da indústria fonográfica parecem não ter percebido o enorme potencial da Internet na difusão dos bens culturais, focando apenas os aspectos comerciais negativos (Santini,2005). As grandes gravadoras perderam o controle do que pode ser gravado, distribuído e usado.

Na Internet o papel mediador das grandes gravadoras é posto em xeque, encurtando o caminho entre o artista e o público: cada vez mais artistas produzem sem vínculos com a indústria fonográfica. O barateamento e a descentralização da produção – estúdios, editoras, gráficas e distribuidoras menores surgem em grandes quantidades para atender a demanda dos artistas independentes – possibilitam a músicos e intérpretes maior autonomia para produção e distribuição de suas obras.

O usuário da música se coloca numa posição privilegiada com a Internet: navegando na rede, o usuário pode escolher e experimentar, dentre os mais variados gostos, as canções que quer ouvir, na hora que melhor lhe convier, dispensando, dentro de alguns limites, a intermediação da indústria da música.

Além da diversidade e da possibilidade de experimentação, outro aspecto que se mostra relevante no uso da música através da Internet é o potencial grau de intervenção. Avançar e retornar sobre um mesmo trecho, repetir uma certa cena de um vídeo ou diminuir o volume de um CD parecem limitadas em termos de intervenção se comparadas àquelas que ser tornam possíveis com a utilização do computador.

O caráter potencial dos dados audíveis digitais faz com que o usuário possa manipulá-los, transformá-los ou recriá-los de maneiras diversas. A intervenção digital modifica a forma de usufruir a cultura: a experimentação digital da música pode resultar na própria transformação estética dos produtos oferecidos na cibercultura.

É cedo para apostar que a Internet libertará os bens culturais de quaisquer influências da indústria cultural e, enquanto a indústria da música se debatem em não saber como agir diante do MP3 e da cibercultura, artistas e usuários incluem cada vez mais as novas tecnologias em suas vidas.

A indústria cultural enfrenta alguns desafios na sociedade da informação como a proteção do conteúdo digital; derrotar a pirataria e procurar manter lucrativos os negócios com a venda de produtos. Na visão das empresas, a pirataria e os serviços de compartilhamento de conteúdos são os grandes culpados pela crise.

Os usuários de computadores interconectados estabelecem relações e criam comunidades virtuais. Estas relações e comunidades moldam o comportamento e a organização social em rede. A cultura comunitária virtual acrescenta dimensão social ao compartilhamento de conteúdo, fazendo da Internet um meio de integração social e simbólica.

Assim, a cibercultura aponta em torno das novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente da Internet, e inclui compartilhamento de informação e formas colaborativas de produção criativa. Destaca-se o caso da música, que está na vanguarda deste processo de mudança cultural. O fenômeno da música na Internet é complexo e funciona por adição e multiplicação das formas de produzir, compartilhar, recuperar e usar conteúdos culturais na sociedade da informação.

A Internet potencializa abertura e liberação da produção, que marcam a cultura da rede para compartilhamento de música, imagens, filmes e textos. A indústria cultural está em grave crise, pois a cibercultura viabiliza formas de produção e compartilhamento de informação, mudando as formações socioculturais políticas e econômicas.

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